Quando me disseram na escola que o Brasil é um país de dimensões continentais, eu achei o máximo viver num lugar tão grande. E isso eu guardei pra vida toda! Eu só via o lado bom de pertencer a uma nação com tanta diversidade cultural e de ecossistemas. Existem muitos “brasis” no Brasil.
Porém, em janeiro, meu pai e eu ganhamos passagens para ir visitar meus tios que moram em Rondônia (sim eu tenho família lá também!). Só que nosso voo fazia escala em Cuiabá, que durante o horário de verão tem uma hora de diferença em relação ao Rio. Acertamos o relógio lá, e ficamos tranquilos. Não lembramos que Porto Velho não tinha horário de verão e que, portanto, a diferença com o Rio seria de duas horas!! Pra piorar a nossa confusão, eu ainda fui visitar uma amiga que passou num concurso para o Acre, e se mudou pra Rio Branco, que também tem fuso horário diferente (três horas a menos em relação à Brasília). Façam as contas.
Pois é, nem sempre é vantagem para o Brasil ser um país continental. Embora eu ache chiquérrimo dizer para os amigos europeus que o meu país tem quatro fusos horários, e que em um voo de duas horas eu só consigo chegar a Salvador, não em outro país. Ou que já passei 32 horas num ônibus, no trajeto Rio de Janeiro – Maranhão, sem nem chegar perto de alguma fronteira! Contudo, foi somente nessa viagem que senti na pele o “problema” do meu amado país gigantesco. Os bancos por aquelas bandas fecham às 13 horas! Pasmem! Primeiro eu fiquei encucada com esse “absurdo” e só depois pensei que era lógico que assim fosse. O sistema bancário tem que funcionar à mesma hora no país inteiro. Então, por aquelas bandas, o banco abre às oito horas, enquanto por aqui abre às dez horas. Difícil para o governo organizar tudo isso, né?! Agora, imagina para o povo!
Como você, morador do Rio de Janeiro, e um carinha com os mesmos ideais, mas que vive no Pará, vão se juntar para lutar por esse ideal comum? Difícil. Como marcar uma data para uma manifestação, e divulgar aos 200 milhões de brasileiros espalhados em 8,5 mil km²? Fora que não é apenas divulgar, mas, sim, debater diversas questões, e também chegar à possíveis propostas. Não, não dá para fazer isso num curto período, enviando carta e nem em uma ligação telefônica. E nem me venha com essa de que a França consegue há séculos porque, né, vamos combinar que fazer isso num país pouco maior do que Minas Gerais é bem mais fácil! Não dá para comparar.
Antes, a maioria das manifestações era essencialmente partidária. Grande parte dos envolvidos eram pessoas que simpatizavam com os partidos, que puxavam para rua e tals. Ou então, eram causas de grupos específicos, que se juntavam por melhorias em determinado setor da saúde, ou limpeza urbana, etc. Eu mesma já fui a algumas enquanto estava na faculdade e, em geral, os integrantes eram apenas pessoas da área em questão mesmo. A divulgação era feita através de cartazes colados pelos corredores da universidade ou por meio de um e-mail aqui, outro ali.
Com as redes sociais, a coisa ficou muito mais legal! Agora, facilmente eu sei não apenas as datas marcadas para os protestos, mas consigo debater sobre diversas questões, sentadinha à minha mesa. E eu não preciso integrar grupo algum, apenas simpatizar com as ideias. É verdade que muitos usam o espaço pra ofender e brigar, mas eu tenho discussões boas com os amigos que me ajudam a formar (e mudar!) minha opinião.
Então, enquanto a maioria se descabela, atacando os de opinião contrária, eu fico aqui admirada de ver como a internet possibilita tudo isso, sobretudo as redes socais. Agora eu posso ler tudo o que acontece em outros estados brasileiros sem depender diretamente do que a TV, o rádio ou o jornal querem me mostrar. Eu mesma posso ir lá digitar um assunto e passar o dia lendo o que me der na telha. Hoje, eu mesma faço a minha “pauta do jornal”, e também escolho minhas fontes. Porque, claro, com tanta facilidade no acesso à informação, é de se esperar que rolem algumas mentiras. Mas como eu disse, com um volume tão grande de notícias circulando você acaba descobrindo com mais facilidade a veracidade das matérias. É só procurar!
Sabemos que conseguimos nos organizar numa mesma data, ainda que muitos e muitos quilômetros (e fusos horários) nos separem. Agora, nossos protestos ganharam a propulsão da própria população, que só precisa se identificar com a questão. Qualquer um sabe que é possível organizar uma manifestação, só precisa encontrar simpatizantes à sua causa nas redes sociais. Tudo isso realmente me deixa admirada, demos um salto enorme!